A Deloitte e a International Chamber of Commerce – Brasil (ICC Brasil) apresentam a pesquisa “Integridade corporativa no Brasil – Evolução do compliance e das boas práticas empresariais nos últimos anos”. O estudo aborda o estágio das empresas que atuam no País em relação à adoção de práticas de compliance, de anticorrupção e de cultura de integridade corporativa.
Há também desafios importante a serem endereçados, dentro do processo de compliance, em relação à gestão de consequência, um termo a ser aprendido e incorporado na cultura das organizações. Entre os destaques da pesquisa está a evolução consistente das empresas que atuam no Brasil na adoção de práticas de controle de riscos e fortalecimento do compliance. Esse cenário de consolidação e aculturamento crescentes da conformidade, no entanto, ainda vem acompanhado de desafios para que o processo de compliance seja implementado de forma mais abrangente e integrada pelas organizações no País.
Alguns caminhos despontam para um futuro próximo de compliance mais fortalecido frente a um novo ecossistema de negócios e de forte cooperação entre as empresas: integração e sinergia entre as áreas da empresa e com terceiros, maior transparência para atuação em um ambiente fortemente global e adesão das empresas de menor porte e gestão familiar às melhores práticas de governança são alguns deles. Ampliar as práticas de compliance exige prontidão aos desafios reais de um mercado cada vez mais competitivo, regulamentado e globalizado e disposição para seguir evoluindo sempre. Esperamos, com esta pesquisa, contribuir com as organizações em sua trajetória.
Destaques da pesquisa
- Compliance evolui, mas tem espaço para crescer
De forma geral, as empresas apresentaram evolução consistente na adoção das 3 práticas de compliance pesquisadas. Entre 2012 e 2014, apenas 24% aderiram a 15 dessas práticas e, entre 2015 e 2017, esse percentual chegou a 46%, com a perspectiva de alcançar 65% até 2020. O resultado reflete uma sofisticação do ambiente regulamentar no País, com a entrada em vigor de importantes leis (como a Lei Anticorrupção e a Lei de Governança em Estatais), bem como o impacto das investigações conduzidas pela operação Lava Jato. No entanto, observa-se que ainda há espaço para crescimento na implementação de medidas de conformidade entre as organizações, uma vez que apenas dois terços estão em fase de adoção de ao menos 15 das 30 práticas pesquisadas até 2020.
- Conformidade impacta positivamente o resultado financeiro
A contribuição do compliance no resultado financeiro é admitida pela grande maioria das organizações: 84% reconhecem essa correlação. Entre os riscos, a maior preocupação é com a imagem da companhia (item indicado por 71%), seguido da sustentabilidade do negócio (70%). Destaques da pesquisa Destaques da pesquisa 01. Metodologia e perfil da amostra 02. Práticas das empresas 03. Evolução do compliance no Brasil 04. Iniciativas de gestão de riscos 05. Medidas anticorrupção 06. Canal de denúncias 07. Internacionalização Expediente .
- Controles em foco
Entre as práticas mais adotadas pelas empresas, estão indicadores de conformidade, comprometimento da alta administração com a efetivação de boas práticas, condução de investigações internas, controles financeiros e implementação de canal de denúncias e de código de ética e conduta. Os principais desafios apontados pelas empresas estão no aumento de escopo das áreas de compliance e no monitoramento de terceiros e das atividades cotidianas.
- Mecanismos de defesa adotados
Um terço das organizações entrevistadas experimentou algum evento de fraude ou irregularidade entre 2012 e 2017. Em mais da metade dos casos, a ocorrência foi descoberta por meio de denúncia interna ou por processos de controles internos, o que revela a importância que as organizações pesquisadas estão direcionando aos canais internos de defesa.
- Integridade que gera valor
Quando perguntados sobre quais seriam os principais desafios nessa área, as empresas participantes apontaram, em relação ao período de 2012 a 2014, para aspectos estruturais, como ausência de pessoal e de infraestrutura tecnológica. Os desafios emergentes que vêm sendo endereçados traduzem uma preocupação de que o compliance de fato esteja integrado à estratégia e possa trazer valor para a organização.
Metodologia e perfil da amostra
211 empresas participantes
Mais de um quarto das empresas da amostra têm receita líquida superior a R$ 10 bilhões. Destacam-se, entre as organizações participantes da pesquisa, empresas atuantes nos setores de manufatura, serviços e infraestrutura. Entre as empresas que atuam exclusivamente no Brasil, a mediana das receitas líquidas é de R$ 750 milhões enquanto, entre as empresas com atuação no País e no exterior, esta mediana é de R$ 1,8 bilhão.
Evolução do compliance no Brasil
Com o intuito de mapear a maturidade das empresas brasileiras e multinacionais que atuam no País em suas práticas de compliance, perguntamos às organizações sobre a adoção de 30 práticas concretas de gestão de riscos, controles e governança corporativa. De forma geral, as empresas que atuam no Brasil apresentaram uma evolução consistente desde 2012 na adoção de práticas de compliance. Esse resultado reflete uma sofisticação do ambiente regulatório no País, com a entrada em vigor de importantes leis (como a Lei Anticorrupção e a Lei de Governança em Estatais), bem como o forte impacto das investigações conduzidas pela operação Lava Jato. No entanto, observa-se que ainda há espaço para crescimento na implementação de medidas de conformidade entre as organizações, uma vez que apenas dois terços adotaram ou estão em fase de adoção de 15 das 30 práticas pesquisadas até 2020. As empresas com receita menor que R$ 100 milhões estão promovendo um salto na adoção de práticas de compliance, mas ainda estão longe do patamar das organizações de maior porte. As empresas de capital nacional também seguem em trajetória de evolução e tendem a se aproximar do mesmo patamar de das empresas de capital estrangeiro ou misto. A adesão das empresas de menor porte e gestão familiar às melhores práticas de conformidade, controles e governança é fundamental para que se possa fortalecer a inserção desta importante fatia frente aos desafios reais de um mercado cada vez mais competitivo, regulamentado e globalizado. Vale ressaltar ainda que as organizações de maior porte e de capital estrangeiro são as mais aderentes a iniciativas de compliance, mas nem por isso deixam de apresentar uma evolução – reflexo da crescente sofisticação dos ambientes nacional e internacional de compliance de uma maior importância dada à cultura de governança por essas empresas, que conduzem a práticas de conformidade mais robustas.
Destaques – Empresas de capital nacional
As empresas com capital nacional avançaram significativamente em práticas como avaliação de riscos de forma periódica e documentada, utilização de indicadores de conformidade às políticas e adoção procedimentos para correção de danos e mitigação de riscos. No entanto, embora o percentual de organizações que realizam essas práticas tenha mais que dobrado em 2015-2017 em relação ao triênio anterior, ainda estão abaixo dos resultados obtidos pela amostra de organizações de capital estrangeiro e misto. A implementação de controles financeiros e contábeis pelas empresas de capital nacional, prevendo a adoção de registros claros e confiáveis, também obteve um expressivo crescimento no período, chegando em um patamar mais próximos das multinacionais pesquisadas.
Destaques – Empresas de menor porte
As práticas de canal de denúncias anônimas e sistema documentado de gestão de riscos, praticamente incipientes entre 2012 e 2014 entre as empresas com receita menor que R$ 100 milhões, obtiveram um crescimento relevante no triênio seguinte. O resultado, contudo, é bastante inferior ao registrados pelas organizações de maior porte. As empresas de menor receita avançaram significativamente em práticas como condução de investigações internas e procedimentos de prevenção a fraudes em compras e contratações públicas. No entanto, embora o percentual de organizações de menor porte que realizam essas práticas tenha mais que dobrado em 2015-2017 em relação ao triênio anterior, ainda estão abaixo dos resultados obtidos pela amostra de organizações com receita maior que R$ 100 milhões. As empresas de menor porte são as que têm apresentado desafios para estruturação de compliance, tendo, nos últimos anos, estado vulneráveis a casos de fraude ou irregularidade. Contudo, a evolução do ambiente regulatório, o acirramento da concorrência e a integração em uma economia mais integrada e descentralizada têm colocado o tema do compliance como prioritário em sua estratégia.
Iniciativas de gestão de riscos
Evitar riscos de reputação e imagem e aumentar a sustentabilidade do negócio são as principais razões pelas quais as empresas pesquisadas conduziram mudanças em suas práticas de controles internos, resultado que reflete uma visão de longo prazo em relação à adoção das práticas de compliance, e não necessariamente a uma necessidade regulatória. Criar um programa de compliance foi o motivo mais importante para a mudança nas práticas de controles internos entre as empresas de maior porte – tanto entre as organizações de receita maior do que R$ 100 milhões quanto entre as de capital estrangeiro/misto.
Criar um programa de compliance foi o motivo mais importante para a mudança nas práticas de controles internos entre as empresas de maior porte.
Vale ressaltar 50% das empresas com receita menor do que R$ 100 milhões promoveram mudanças nos controles internos para atender exigências de clientes, o que indica que essas organizações têm considerado o compliance um fator relevante para a sua inserção competitiva em um mercado a cada dia mais integrado e colaborativo
Relatórios da auditoria interna, investigação de denúncias anônimas e relatórios da auditoria externa são os mecanismos que as empresas pesquisadas mais utilizam para identificar riscos e compará-los aos riscos do setor de atuação da organização.
Quando perguntados sobre as quais seriam os principais desafios do compliance, as empresas participantes do estudo destacaram para o período de 2012 a 2014 aspectos estruturais, como ausência de pessoal e de infraestrutura tecnológica. Para o presente e o futuro próximo, desafios de integração com as demais áreas de empresa e com terceiros e ampliação do escopo se destacaram, colocando um novo perfil de atuação para a área de compliance. Os desafios emergentes que vêm sendo endereçados traduzem uma preocupação de que o compliance de fato esteja integrado à estratégia e possa trazer valor para a organização.
Entre as boas práticas que têm sido mais adotadas pelas organizações estão os mecanismos de controles de conflitos de interesse, tais como o controle à realização de negócios com empresas em que familiar exerça posição de gerente, conselheiro ou diretor e à transmissão de informações confidenciais para clientes, terceiros, investidores e fornecedores.
Medidas anticorrupção
Um terço das organizações entrevistadas experimentaram algum evento de fraude ou irregularidade entre 2012 e 2017. Em mais da metade dos casos, a ocorrência foi descoberta por meio de denúncia interna ou por processos de controles internos, o que revela a importância que as organizações pesquisadas estão direcionando aos canais internos de defesa.
32% das empresas experimentaram algum tipo de fraude ou irregularidade
A cultura organizacional foi destacada como o principal fator de prevenção a incidentes de fraude ou irregularidade, seguido pela importante adesão das lideranças às práticas de compliance. Para detectar precocemente fraudes e irregularidades, a prática mais adotada pelas empresas participantes é a formação de profissionais para que identifiquem “bandeiras vermelhas”.
Os riscos de reputação e imagem decorrentes de incidentes de fraude ou irregularidade são o fator de impacto negativo mais mencionado pelos respondentes, tendo sido lembrados por três quartos da amostra. Este resultado indica que fatores que impactam a sustentabilidade do negócio a um maior prazo são prioritários pelas organizações pesquisadas frente aos custos para remediar e investigar esses eventos. Quase um terço das empresas nunca realizou uma avaliação formal do risco de corrupção.
Canal de denúncias
As organizações participantes da pesquisa viram, nos últimos dois triênios, o número de relatos feitos por meio do canal de denúncias aumentar. A expectativa de 40% dos respondentes, no entanto, é que esse indicador diminua até 2020.
A garantia de anonimato é a prática mais adotada pelas empresas para estimular a adesão ao canal de denúncias.
Internacionalização
Os desafios de compliance se intensificam para empresas que atuam globalmente – realidade de grande parte das organizações na atual economia sem fronteiras. Para competir internacionalmente, muitas empresas – especialmente as de menor porte – sentem a necessidade de elevar a régua de suas práticas de governança, controles e gestão de riscos.
54% praticam comércio no exterior
A adequação das políticas de governança ainda é pautada, maioritariamente, para o atendimento a exigências do país de destino. No entanto, a tendência é a de que a necessidade de atendimento a exigências dos clientes cresça no próximo triênio.
Fonte: Deloitte Brasil